FONOLOGIA

MESA REDONDA: FONOLOGIA
Coordenador: Emílio Pagotto (UNICAMP/USP)

 

Relação entre fenômenos prosódicos e processos segmentais: retomando a questão a partir de alguns dados do  português brasileiro

Maria Bernadete Marques Abaurre - Unicamp, CNPq

Uma questão que vem há algum tempo despertando o interesse dos fonólogos diz respeito à relação entre fenômenos prosódicos e fenômenos segmentais.
Dentre outras indagações que essa questão geral permite formular, está a direção da influência, nos casos em que ela pode ser postulada: são os fenômenos prosódicos que engatilham processos que afetam a cadeia segmental, são as características intrínsecas de determinados segmentos (e.g., a qualidade de certas vogais) que desencadeiam ajustes prosódicos, ou deve-se supor que não há direcionalidade implicada nessa relação, sendo mais adequado pressupor um efeito simultâneo prosódia/segmentos?
A resposta a essas indagações depende em parte, é claro, da teoria fonológica com a qual se opera.
Neste trabalho vamos abordar essas questões com base na análise de um corpus do PB representativo de variedades do Nordeste. O corpus consiste na leitura, por seis informantes, em taxa de elocução normal, do texto de uma crônica publicada em uma revista semanal.
A partir do levantamento da ocorrência, nesse corpus, de processos que afetam a cadeia segmental, como o sândi vocálico e o abaixamento de vogais pretônicas, investigaremos a eventual relação entre a aplicação desses processos e a distribuição das proeminências acentuais, com o objetivo de retomar as questões teóricas relevantes. 

 

Batidas Latinas – Uma abordagem musical às diferenças rítmicas entre línguas românicas
Uli Reich, FU Berlin

As diferenças rítmicas entre as línguas românicas são evidentes e muito bem descritas (Auer 1993, Abaurre & Galves 1998, Astésano 1999, Frota & Vigário 1999, Frota & Vigário 2001, Reich 2002, 2004, Dufter 2003, Dufter & Reich 2003, Sândalo & Abaurre 2007, entre outros).
Muitas dessas diferenças podem-se explicar em termos de diferenças sistemáticas no aproveitamento de meios prosódicos como proeminência e tempo para funções gramaticais: O francês otimiza sistematicamente a frase fonológica para a expressão da estrutura informacional, deixando a palavra fonológica sem expressão, enquanto que em Espanhol e o Português, acentos atuam também nos sistemas lexical e morfológico.
Mas esse tipo de explicação não se pode aplicar às línguas ibero-românicas: O Espanhol, o Português Brasileiro e o Português Europeu compartilham as funções sistemáticas expressas pela prosódia, mas diferem nitidamente no ritmo.
A minha contribuição visa dar conta dessas diferenças em termos da teoria musical (Reich & Rohrmeier, no prelo): A redução e apagamento de vogais não acentuadas pode se descrever como seleção do nível métrico realizado na fala, uma opção que se aproveita na música para a variação rítmica em estilos pessoais. Lerdahl & Jackendoff (1983) descrevem essa técnica musical como time-span reduction.
Nessa perspectiva, a mesma oração linguística pode-se falar à maneira espanhola, brasileira ou portuguesa, assim como a mesma peça musical varia consideravelmente dependendo do ritmo que o artista prefere para realizá-la.

 

Atitude do falante em relação à variação fonológica: uma atitude consciente?
Dermeval da Hora, Universidade Federal da Paraíba

Os estudos sociolinguísticos desenvolvidos por Labov, nos anos 60 e subseqüentes do século XX, foram fundamentais para o início e a continuidade de outros estudos realizados em diferentes partes do mundo. A partir da estratificação social das variáveis e observando sua correlação com fatores estruturais, foi possível que se estabelecessem padrões sistemáticos em vários aspectos da língua, principalmente no que tange aos fonológicos.
Como atestam os trabalhos implementados, ênfase maior foi dada às variáveis sociais e estruturais, com pouca atenção voltada para a variável estilística. Sabemos que a metodologia sociolingüística, no que concerne ao estilo contextual, tem-se voltado para duas abordagens. De um lado, a mudança de estilo vista como fenômeno etnográfico; de outro, como um mecanismo controlado, ao se medir a dinâmica da variação sociolinguística.
Saber tanto quanto possível sobre as formas que os falantes mudam e sua frequência no cotidiano é um desafio. E a mudança de estilo parece ser uma das chaves para o que vemos como o problema central da teoria da mudança linguística: o problema da transmissão (Labov, 2001).
Atrelado à questão do estilo está o papel da consciência linguística que pode revelar-se na atitude do falante-ouvinte tanto em relação a sua própria fala como a de outrem.
Utilizando dados do Projeto Variação Linguística no Estado da Paraíba – VALPB (Hora, 1993), nosso objetivo é avaliar a atitude do falante paraibano em relação a processos fonológicos que podem ser categorizados tanto como pontuais como quanto globais, se considerarmos aspectos estruturais e prosódicos.
Além disso, avaliaremos até que ponto o falante tem consciência do processo variável que permeia sua fala e a de outros falantes brasileiros.

 

Cronologia e tipologia da evolução fonética do PB

Volker Noll (Universität Münster)

As características fonéticas do português brasileiro resultam, de uma parte, da evolução da língua nos últimos 500 anos, assim como da diferenciação progressiva do português europeu, de outra parte. Esta palestra acompanha o processo diferenciador das duas variedades, que é notável desde o primeiro século da colonização. Ademais, tenta uma classificação das mudanças ocorridas, quer dizer dos traços inovadores no consonantismo frente ao vocalismo mais conservador. Em relação à fonologia, observa-se certa tendência para equilibrar o sistema que se percebe na regularização da estrutura silábica, bem como na preferência que se dá às vogais em posição final.