ESTUDOS DE HISTÓRIA SOCIAL

MESA REDONDA: ESTUDOS DE HISTÓRIA SOCIAL
Coordenadora: Marilza de Oliveira (USP)

 

O tratamento por 'bobo' no português brasileiro dialetal
Jânia Ramos, Universidade Federal de Minas Gerais

Em situações de em que se vai dar alguma sugestão ou conselho a alguém, é comum o uso de formas de tratamento nominais. Em alguns dos dialetos brasileiros, o termo “bobo” pode aparecer neste contexto, na função de vocativo, como em "Não faz isso não, bobo!". Essa forma  de tratamento é ofensiva  nos demais dialetos brasileiros, sendo o termo ‘bobo’ interpretado como sinônimo de  ‘tolo’. Mas no dialeto falado em Minas Gerais, essa é uma forma de tratamento amigável, indicadora de proximidade e atenção.
  Nesta comunicação busco estabelecer correlações entre o uso “especializado” do termo ‘bobo’ e a história social das áreas geolinguísticas em que sua ocorrência é documentada como tratamento amigável.  Um ponto comum entre estas áreas é terem estado vinculadas à extração de ouro no período colonial no Brasil. 
A pesquisa de natureza qualitativa foi feita a partir da análise de dois tipos de amostra, a primeira composta de entrevistas sociolingüísticas e a segunda composta de diálogos em balcão de atendimento em instituição pública. Todos os informantes são naturais de Minas Gerais.
O estudo da origem dessa forma de tratamento nominal contribui para a pesquisa do inventário das formas usadas em vocativos no Português Brasileiro, assim como ilumina aspectos importantes da construção de relações interpessoais na comunidade linguística analisada.

 

Aspectos da história social do Português Popular em São Paulo na primeira década do século XXI

Angela Rodrigues (USP) 

No âmbito do subprojeto RETRATO SOCIOLINGUÍSTICO DA CIDADE DE SÃO PAULO NO FINAL DO SÉCULO XX E INÍCIO DO XXI: A VARIEDADE POPULAR, um dos subprojetos do projeto maior PARA A HISTÓRIA DO PORTUGUÊS PAULISTA (PROJETO CAIPIRA), coordenado na sua primeira  fase pelo Prof. Dr. Ataliba de Castilho, além de editar material de português popular falado em São Paulo, foi também nosso objetivo levantar informações sobre a história recente da capital paulista,com atenção especial aos aspectos demográficos.
Assim, buscamos levantar bibliografia que respaldasse nossas reflexões sobre a realidade demográfica paulistana, com atenção especial às alterações na constituição da população da capital, principalmente do contingente usuário dessa variedade popular urbana do Português  Brasileiro (PBPop), com vistas à reconstituição da história social do Português Popular em São Paulo nas últimas décadas do século XX e começo do XXI.
Partimos do pressuposto de que o Português Popular constitui  objeto de estudo imprescindível para que se dê conta da história do Português Brasileiro por inteiro, acreditando que a  variedade popular realizada na capital paulistana nos fornece elementos, indícios decisivos para a reconstituição do português geral do Brasil, que aqui se formou e que pode ser considerado o antecedente histórico do Português Popular Brasileiro.
Para se alcançar tal objetivo, levamos em conta a teoria da Variação e Mudança, que sugere o uso do presente para explicar o passado (LABOV, 1975, 1994) e que se baseia no Princípio da Uniformidade (WHITNEY,1867, APUD labov, 1994:22), segundo o qual as forças que atuam no momento sincrônico presente são ou deveriam ser) as mesmas que atuaram no passado e vice-versa. Mais que isso, Labov sugere uma Sociolinguístia Histórica, que tem como um dos seus princípios básicos a idéia de que não é possível o desenvolvimento de uma  mudança linguística fora da estrutura social da comunidade em que ocorre, ou seja, é fundamental que sejam levadas em conta as pressões sociais que continuamente operam sobre a língua.
Num primeiro momento buscamos entender as razões pelas quais   cidade de São Paulo apresenta esta enorme estrutura de  urbananização na atualidade, resultando disso observações sobre o processo de urbanização  de São Paulo, mais especificamente sobre o processo de formação da população  usuária do PBPop em São Paulo, do início do século XX até fins da década de 1980. Associamos a esse processo o da VELHA EXCLUSÃO SOCIAL, entendida como uma forma de marginalização de parte da população expressa pelos baixos níveis de renda e escolaridade, incidindo mais frequentemente sobre os migrantes, analfabetos, mulheres, famílias numerosas e população negra.
Neste trabalho, continuamos a discussão iniciada em trabalho  anterior sobre a NOVA EXCLUSÃO SOCIAL, que vem contaminando rapidamente todas as classes sociais de todas as regiões desenvolvidas do Brasil, por intermédio do desemprego generalizado e de longa duração, do isolamento juvenil, da  pobreza no interior das famílias mono parentais, da ausência de perspectiva para parcela da população com maior escolaridade e da explosão da violência (CAMPOS et alii, 2003:35),
Centralizaremos nossa atenção nas classes menos favorecidas na medida em que trataremos de aspectos como redistribuição da população favelada por regiões não correspondentes exclusivamente à periferia paulistana, a diminuição do fluxo migratório, a violência associada ao comércio das drogas.
 

Urbanização e intervenção lingüística no Brasil (1950-1960)
Marlos de Barros Pessoa, Universidade Federal de Pernambuco

Trata-se da identificação de esforços de intervenção lingüística no Brasil entre as décadas de 1950 e 1960. Três frentes de intervenção, que se materializam:
a) na adoção de uma política lingüística com fins claros de se padronizar a língua falada;
b) no levantamento de dados lingüísticos no ambiente rural e urbano;
c) e, por fim, na contribuição da alfabetização como parte também de uma política lingüística, que recebe influência das pesquisas dialetológicas.
O “livro de leitura para adultos” do Movimento de Cultura Popular do Recife (MCP, 1962) é reflexão do esforço intervencionista.

 

Os anúncios publicitários, eles vivem de espetáculo
Marilza de Oliveira (USP)

A história dos anúncios publicitários tem apontado o pregão como a sua fonte primordial, marcada em expressões como "quem quiser comprar X, dirija-se a Y".
Entretanto,a presença da expressão "respeitável público" em vários anúncios do final do séc. XIX aponta para a presença do espetáculo circense na sua construção.
Além da "etiqueta social", esses anúncios aportam a marca da pessoalidade, que se estende para as construções de duplo sujeito.
Nesta comunicação reinterpreto o surgimento do sujeito duplo do PB, geralmente associado à morfologia verbal fraca e/ou à presença de pronomes fracos.
Procuro, por meio da análise de anúncios publicitários, correlacionar o sujeito duplo às situações de espetáculo.