DISCUTINDO A LUSOFONIA

MESA REDONDA: DISCUTINDO A LUSOFONIA
Coordenador: Carlos Alberto Faraco (UFPR)

 

A Agenda Internacional do português no pós-2010
Gilvan Müller de Oliveira, Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP)

Esta comunicação analisa as políticas da língua portuguesa da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e as ações da sua agência linguística, o Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), com sede em Cabo Verde, após a entrada em vigor do Acordo Ortográfico de 1990 e da Ia. Conferência Internacional sobre o Futuro do Português no Sistema Mundial, realizada no Brasil em Março de 2010, e que propôs o Plano de Ação de Brasília para a Promoção, a Difusão e
a Projeção da Língua Portuguesa, homologado pelos Chefes de Estado e de Governo da CPLP, na Cimeira ocorrida em Luanda em Julho de 2010.
Quatro pontos merecem especial atenção na comunicação, por constituírem a espinha dorsal da Agenda: o português nas organizações internacionais, a gestão do português na internet e no mundo digital, o português e seus usos na Diáspora dos países da CPLP e o redimensionamento da diversidade linguística interna ao Espaço CPLP.

 

Lusofonia em Moçambique: com ou sem glotofagia?
Perpétua Gonçalves, Universidade Eduardo Mondlane, Moçambique

A adoção do português como língua oficial e língua de “unidade nacional” no pós-independência de países multilingues como Moçambique teve motivações políticas e sociais que não foram nunca contestadas de forma radical. Pelo contrário, a marginalização das línguas bantu locais, que se verifica até hoje, tem vindo a ser posta em questão sobretudo por intelectuais e académicos moçambicanos.
Um dos efeitos da supremacia do português é o progressivo abandono das línguas bantu, consideradas sem prestígio e com valor social limitado – sobretudo em meio urbano – pelas próprias comunidades que as falam. Em termos quantitativos, esta “lusofonia glotofágica” não tem contornos dramáticos, já que as línguas bantu são ainda as línguas maternas de quase 90% da população moçambicana. É em termos qualitativos que a questão se coloca, devido à assimetria que se regista nos domínios de utilização da língua portuguesa e das línguas bantu: a primeira é usada sobretudo nos chamados domínios “altos” (escolarização, meios de comunicação escrita, etc.), ao passo que as segundas estão confinadas quase exclusivamente à comunicação familiar e inter-étnica.
Nesta comunicação, pretende-se apresentar dados e argumentos sobre a situação das línguas faladas em Moçambique, que estimulem o debate com o público brasileiro.

 

É possível uma perspectiva normativa multicêntrica para o português?
Carlos Alberto Faraco, Universidade Federal do Paraná

Como já notaram vários autores, vem crescendo o número de falantes de português como L-1, L-2 e língua estrangeira. Trata-se, portanto, de uma língua em franca expansão no cenário internacional.
Essa situação aponta para a necessidade de se repensar as políticas de gestão e promoção da língua. Embora ainda prevaleça em muitos meios a ideia de que essas políticas devem ser estritamente nacionais, há claramente diversas demandas que apontam para a necessidade de essas políticas adquirirem uma dimensão internacional, congregando os diferentes países e regiões em que o português está presente.
Um dos temas cruciais é precisamente o da norma de referência. Devemos continuar a pensá-la em termos apenas nacionais ou devemos pensá-la também em termos internacionais? Devemos continuar cultivando a ideia de normas unicêntricas ou é possível, como se tem feito na hispanofonia, a construção de uma norma multicêntrica?